Nossas tomadas de decisão: sistema 1 e sistema 2

Vamos fazer um teste?

Pense em como você você agiu no último mês.

Comi demais: [ ]sim [ ]não

Gastei dinheiro e me arrependi depois: [ ]sim [ ]não

Comprei algo desnecessário: [ ]sim [ ]não

Não me exercitei o tanto suficiente: [ ]sim [ ]não

Todos nós sabemos o que é certo ou errado. Sabemos as consequências das atitudes erradas e os benefícios das atitudes certas. Mas, então, por que tomamos decisões tão ruins? 

Porque nossa racionalidade é limitada, somos seres emocionais e estamos suscetíveis a falhas. Tudo ao nosso redor nos influencia, sejam pessoas, ambiente ou sensações.

Reconhecer que somos frágeis, limitados e precários é um bom ponto de partida para começar a tomar decisões melhores.

Tudo isso que falei e mais um monte de coisas que nos trazem reflexões bem pertinentes são assuntos tratados pela economia comportamental: uma disciplina que surgiu com o intuito de entender e modelar nossas decisões de forma mais realista, lançando mão de descobertas empíricas no campo da psicologia, neurociência e de ciências sociais.

Dentre os autores, pesquisadores e estudiosos da economia comportamental, temos Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia em 2002, que em seu livro Rápido e  Devagar: Duas Formas de Pensar nos apresentou  estudos feitos em conjunto com Amos Tversky.

E hoje vou falar um pouquinho sobre um de seus estudos, que deu nome ao livro.

Rápido e devagar

Quanto é 2+2? E 17 x 24?

Tenho certeza que você, em frações de segundos, pensou na resposta da primeira pergunta. Já para a segunda é bem provável que demorou um pouco mais, podendo até ter tido necessidade de alguns recursos matemáticos para solução.

Isso acontece porque nossa mente possui dois sistemas que são responsáveis por nossas percepções. 

Um é mais rápido, capaz de completar expressões como ” água mole…”,  detectar que um objeto está mais distante que outro,  reconhecer objetos, esquivar-se ao receber um susto, enfim, toda atividade que nos ativam o modo automático. A este damos o nome de Sistema 1.

O outro é mais lento, controlado e consciente. Atividades como comparar dois produtos em uma loja, buscar na memória algum fato da infância, concentrar em uma prova, são exemplos do modo como o Sistema 2 age.

Responda mais essa aqui:

Um taco de beisebol e uma bola juntos custam R$1,10. O taco custa 1 real a mais do que a bola. Quanto custa a bola?

Aposto que seu sistema 1 te levou a responder que a bola custa R$ 0,10, né? Olha ele aí te pregando uma peça num problema que requer o raciocínio lógico do sistema 2.

Só para matar sua curiosidade, para solucionar esse problema, é necessário resolver o sistema t+b=1,10 e  t=b+1. E a resposta correta seria que a bola custa R$0,05.

Pode não parecer, mas a divisão do trabalho entre os dois sistema é bastante eficaz para diminuir nossos esforços. Imagina como seria se tivéssemos sempre que usar nosso sistema 2 para tomar uma decisão. O sistema 1 nos acompanha desde quando ainda precisávamos nos proteger de ataques de predadores na floresta. Mas utilizar o sistema 1 para resolver problemas mais complexos pode gerar erros intuitivos  do nosso julgamento.

Heurística do afeto

É um atalho mental que faz com que nossas decisões não sejam puramente racionais e sejam influenciadas por emoções que se manifestam de forma automática e, até mesmo, inconsciente. Se você fizer uma reflexão sobre momentos de sua vida, vai perceber que decisões emocionais tendem a ser intuitivas e imediatas, enquanto as racionais são analisadas e demandam tempo e maior esforço.

Quando escolhas nos trazem uma boa relação afetiva ou boas emoções, temos a tendência de superestimar seus benefícios e subestimar os riscos e custos. O contrário também acontece, quando as escolhas despertam más emoções, subestimamos os benefícios e riscos e custos passam a ter um peso maior em nossa balança intuitiva.

Ancoragem

Imagine que você entrou em uma loja para comprar o fogão que tanto precisa. E encontra  um modelo de uma boa marca que  parece ser de bastante qualidade também. Esse fogão custa R$1500,00, logo o vendedor se aproxima e diz que hoje, por conta de uma ação que a loja está fazendo pela Copa do Mundo, o aparelho está custando R$1000,00. Você logo pensa: “Um descontão de R$500,00!!!”.

O negócio parece ser bom? Mas será que R$1.000,00 por um fogão é um preço justo?

O fato é que nós, eu e você, não possuímos conhecimento específico suficiente para avaliar esse tipo de situação. O que temos nesse exemplo como preço de referência é o valor de R$1.500,00 e essa será a informação que influenciará nossa decisão se essa é uma boa compra ou não.

A ancoragem é um viés cognitivo que descreve a tendência que temos de confiar logo na primeira informação recebida, (que será a âncora) na tomada de decisões para fazer julgamentos posteriores.

Saber como é o funcionamento de nossa mente pode te ajudar a entender melhor suas escolhas e, até mesmo  com criatividade, transformar as fraquezas em vantagens que te façam tomar melhores decisões financeiras.